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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 23 de abril de 2011

Crônica: "BONOSSAURO" E O COICE DA ÉGUA HUMANA

“BONOSSAURO” E O COICE DA ÉGUA HUMANA
Erivelto Reis

Ah, “Abril Despedaçado”! Lembrei-me, durante todo o mês de abril de 2011, do título do livro de Ismail Kadaré, tornado um clássico do cinema nacional por Walter Salles. Esse mês de abril foi tão difícil, tão sofrido, tão doído... Tenho medo do mês de maio, do desmaio futuro, tenho saudades de março.
Não pretendia evocar as doloridas lembranças dos atos insanos que prometemos, ao longo dos anos, não mais esquecer. A dor do vizinho, a dor do outro, a dor no outro, não é adorno, não pode ser programa para entreter. Mas o fato é que fomos e estamos feridos. Ficamos abalados, ficamos exaltados, revoltados, possessos. A sombra do perverso invadiu a escola, se matriculou e por lá ficou, repetindo, repetindo... No dia sete ela se de-formou.
Pais, professores e alunos são pessoas; não números, não são estatísticas; estão do mesmo lado. O lado de fora do estado de direito, discutindo um jeito de entrar, de fato. Não basta supor-se dentro, não importa supor-se ouvido, acolhido, respeitado. Não que se diga e se aja como se fora ao contrário. Está na lei, no contrato, no imposto pago, no estatuto, na investidura, no diploma, só não está no ato.
A escola ensina grandes lições. Essa não foi diferente, só que machucou; só que marcou, porque não pode ser passada pra frente. Tem de ser enfrentada, evitada, modificada. Há um herói em cada sala, empunhando um giz; há um médico, um psicólogo, um assistente social, um representante do poder público; símbolo, tantas vezes, da única presença do poder público. Tudo isso inserido na figura de um professor ou professora, claro. Que professora é a docência com açúcar e com uma pitada a mais de amor. A sala de aula é um altar sacrossanto, um templo, um consultório, um escritório, um espaço democrático de produção de conhecimento. Não é só porta, janela, parede, cimento, esquecimento do mundo lá fora.
Chega de violência, de intransigência e de negligência. Isso é coisa do tempo dos dinossauros e dos “Bonossauros”. A violência é o coice da égua humana, não é bacana. Nada de desaforo, de desforra, de vingança, de arrogância, de prepotência e de omissão. Chega de discursos vazios, evasivos e condolentes na televisão. Isso é coisa que ninguém mais aguenta. “Quem do naufrágio sai a nado à praia, té na terra se teme da tormenta.”