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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 2 de junho de 2012

Crônica: O Hulk de Japeri - Erivelto Reis

O HULK DE JAPERI

Erivelto Reis

Enquanto as eleições se aproximam, enquanto não se separa o joio do trigo, fato que não ocorre após o pleito, mas, ao longo do exercício ético e comprometido do mandato, temos que conviver com as reações efusivas, com as solicitações votivas, com os discursos entusiásticos dos candidatos; melhor dizendo: antes, dos aspirantes, dos postulantes, dos pré-candidatos.

Pré-candidato é um político em processo de maturação, é como um artista que se apresenta em pequenos barzinhos antes de alcançar o estrelato. É o Luan Santana do anonimato, o Michel Teló desconhecido (talvez até pense “ai, se eu te pego”, só que em outro sentido!), a Joelma sem maquiagem. Acompanhe o desenho da engrenagem: ele tem o dom; pensa que tem; não tem, mas disfarça; não importa... Ele te aborda, pergunta da sua vida como se houvesse interesse, acha graça, se comove. Pré-candidato é diferente: enquanto o político em campanha cumprimenta apertando a mão da gente, ele já chega e abraça, dá tapa nas costas, fica frente a frente. Pré-candidato bem sucedido é o embrião do político inteligente, convincente.

Você, às vezes, já até os conhece: encontram-se entre eles o Seujoãodapadaria, o Zémarcelodosacolão, o Doutormarcospediatra, a Donamárciadosalão... Só que agora eles estão mais expansivos, mais felizes, mais risonhos, mais entusiasmados. Do dia pra noite, aquele sujeito pacato, daqueles que dormem na reunião do condomínio, torna-se o estadista do calçamento, o articulista do saneamento, o especialista em investimento, o arauto da modernidade, o representante do estado-maior do sonho de segurança, o estrategista do transporte na cidade. O pombo da paz da esperança.

Compreendo que a Política é uma ciência; que é coisa séria e que merece respeito de quem vota e de quem se candidata. Que seja, na sociedade, uma consequência inata; que a Democracia precise do sacrifício das senhoras e dos senhores que se devotam à vida pública; que exista o desejo de transformação. Não estou questionando ideais, honestidade, nem capacidade de ninguém, nem hoje, nem amanhã. Mas, percebam: o pré-candidato é o torcedor, o jogador de “pelada” que sonha em brilhar, marcando um gol de placa, na final do campeonato, no gramado do estádio lotado do Maracanã.

Aproveito para sugerir aos pré-candidatos que adotem como nomes de campanha, alguns nomes de personagens de desenho animado que poderão cativar, do netinho à vovó, nessa promessa implícita de que o pretenso eleitor jamais estará só e que, quem sabe, ajudarão o eleitor a memorizar o que são, como serão e como agem a partir de uma livre associação de características e de qualidades: Hulkdejaperi, Capitãoaméricadejardimgramacho, Speedracerdoestácio, Mulhermaravilhadeseropédica, Bobesponjadecampogrande, Homemaranhadeitaguaí. Por via das dúvidas, evite Homeminvisíveldeparaty.

Outra coisa: nada de nomes que propaguem ostentação e opulência: CarlãodoBMW, JoanadaMansão, Alexdorolex. Alguns eleitores poderão até achar sexy, mas outros entenderão como uma declaração dos bens que você pretenda dividir. Alguém me disse: “Há um pré-candidato em cada esquina”, prometendo emprego, saúde, transporte, moradia, segurança e educação. Converse com eles, escolha bem! Decida. Talvez você jamais chegue a ver as fotos dos ex-pré-candidatos, ao apertar o verde da urna eletrônica; mas, enquanto eles se expressam, enquanto planejam, enquanto convencem, tecem uma canção de embalar o sono e os sonhos de Democracia. Uma canção mais que eclética. Eu diria, sem letra definida e quase sem partitura. Mas que nos mantém distantes do pesadelo de uma ditadura.