Lixo
Erivelto Reis
Lixo é bicho humano cabisbaixo?
É moral lá em baixo e ninguém se lixa?
O lixo muda de nome e de forma,
Mas não serve pra matar a fome.
Só se alguém vender, só se alguém comprar:
O lixo é a montanha de sombra
E escombros daquilo que sobrar.
Lixo é algo aceitável, inesgotável, tratável e reciclável,
Só se houver utilidade?
É ficha limpa? Eleição com numeração raspada?
Munição com favas contadas? Tecle o verde e vê se erra.
Aperte o gatilho e confirma?
Duas formas de bala perdida?
A arma empunhada contra a própria vida.
Saudade, tragédia e azar:
O lixo é a montanha de sombra
E escombros daquilo que sobrar.
Se perder e ninguém encontrar, vai parar no lixo?
Indenização por tempo de desserviço?
Vamos acabar com isso.
Direito adquirido agora é lixo?
Corrupção, miséria e lastimar:
O lixo é a montanha de sombra
E escombros daquilo que sobrar.
Sentimento agora é lixo?
Pureza e honestidade, amizade e caridade,
Vão servir para se transformar em embalagem de produto?
É bom você pensar no assunto.
Gentileza virando etiqueta presa ao pé do carinho defunto
Não reconhecido na geladeira do IML.
Canções e poemas de amor varridos
Pra debaixo do tapete em nome do deleite do fácilsexo, do fazsucesso?
Como se não houvesse existido respeito, nexo.
Delete já. Delate já. Recicle já.
O lixo é a montanha de sombra
E escombros daquilo que sobrar.
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