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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Poema: Éter - Erivelto Reis



Éter
Erivelto Reis

Não se guarda o heterônimo dos deuses,
Até que eles iniciem a vingança...
Foi quando, então, senti
Netuno esvaziar-se de mim:
Surgido entre os vagidos,
Os sufrágios e os naufrágios
Da descoberta do que em mim não mente,
Mas que minto, mito do que sinto
E sei que muita gente sente.
Apólogos ensaiados, sorrisos de mecenas,
Ilude-se o bardo, o persa, o grego,
E o oriental humano, espelho de um sol diferente.
Vá cuidar de obedecer a tudo, a todos,
E provar do manjar dos dissabores
Apertar a mão dos seus sabotadores...
E vai rir de um deus desumano
Que não tem memória, mas não te perdoa
E não cura tuas dores.
Vai procurar entender de Pessoa,
De Dante, Cervantes...
Vai pensar que o desato
Era mais seguro do que antes.
E vai se perder de si mesmo,
Até que não reste nem mesmo lembrança.
Não se guarda o heterônimo dos deuses,
Até que algum dia,
Algum deles inicie a vingança...


domingo, 3 de novembro de 2013

Poema: "Banca" - Erivelto Reis

BANCA
Erivelto Reis

Vários alunos entregaram monografia esta semana
Eu os vi e ouvi seus comentários:
Felizes, exaustos, recompensados, aliviados...
Não sei se sabem que escreveram
A carta de descobrimento de seu futuro
Ou dos muitos futuros que poderão escrever.

Já não são apenas nossos alunos.
São nossos colegas,
Escritores, pesquisadores
E acadêmicos.
Eu, e alguns mais,
Ainda os vemos de outro jeito:
São pássaros que alçam voo,
Navegantes em busca de continentes,
Crianças alegres e inocentes
Brincando de imitar os parentes.

O exercício da profissão os fará mais fortes.
Admito que os admiro
E que olho para eles com orgulho e respeito.

São pessoas que professaram seu amor à Educação,
Que abraçaram e lutaram com o mesmo empenho,
Com a mesma sede e a mesma confiança
Dos que beberam na foz de um rio
Que não seca nunca.

Poema: "On the rocks" - Erivelto Reis



ON THE ROCKS
Erivelto Reis

À medida que derrete o gelo
Tramo meu drama
Traço meu apelo
Embaralho as cartas remarcadas
Não vejo que consumo, sob consenso,
Em ebulição ou em sossego,
A minha última cartada.

À medida que derrete o gelo
Que torrente de emoção,
Concorrente da razão,
Disfarça-se como espetáculo patético?

À medida que derrete o gelo
Listo uma procuração à alma
Confiro a quem de direito,
Um eito do que há em mim,
De bom ou de ruim...
Reparto silêncios,

 À medida que derrete o gelo,
Revejo meu itinerário,
Delego bens e maldades,
Mentiras e verdades,
Acusações e desculpas,
A quem se recusa, me agride
E se oculta,
Reflexivo, refratário,
Na partilha íntima,
Lúdica e telúrica
De perdas e pedras
Das dores do meu inventário.