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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Poema: "O medo e a aventura" - Cícero César e Erivelto Reis

O MEDO E A AVENTURA
(CÍCERO CÉSAR/ ERIVELTO REIS)

Diante de tanta coisa junta
Ainda vale a pergunta:
O que minha geração espera de mim
Para que eu me torne um grande brasileiro?
O que posso fazer?
O que pode ser feito?
Dia a dia
A honra de carregar a pedra morro acima
E, quase chegando ao topo, deixá-la rolar
Para recomeçar
Para recomeçar
De corpo inteiro
Por mais que a pedra fira
Eu topo, apesar das topadas
Ciente de que se trata do início da caminhada
Da prática à teoria
Da teoria à prática
Professor é aprendiz, um tanto louco
Aprende com os alunos e muito
Depois, se ensina, aos poucos
E como em tudo há certo intuito
Da aprendizagem dá o troco:
Entrevê o encanto do inacabado
No inacabado do encanto
Para que a vida valha a pena, sempre e tanto.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Poema: Uma História sem Saudades - Erivelto Reis

Uma História sem saudades

Para Oswaldo

Não posso mudar a História,
Mas tenho o dever de aprender com ela.
Não sei de cor muitas datas,
Não gosto de calendários,
Mas me oriento observando
A conversa dos mais sábios
E a sapiência dos mais serenos.
Os alfarrábios, papiros e documentos
São úteis sem gente perto!
Porém, mudar o que parece errado,
É certo para quem é correto.
Arautos, ei-los aos tantos,
De cada canto, altar e andor
Saltando...
Eis que é preciso cuidado!
Em prece, com pressa, aguardo:
Que bons ventos te conduzam
Numa história sem saudades,
Meu bom amigo e de meu pai,
Meu companheiro, Oswaldo.


Poema: "Véspera" - Erivelto Reis

(V) ésper (a)...
Erivelto Reis

Esvaziada de magia
A noite quente tão fria
De vinho barato e abraços rasos...
Esmagada, como rabanada de anteontem,
Pisca, à luz da incerteza,
A esperança que viria.
Temo que daqui a alguns anos
Papai seja o varejo,
Noel, um novo cantor sertanejo.
E a ceia seja o receio
Do prato fundo cheio
Que não veio.
Entre a lágrima e o presente
Que intensões,
Que desejos se escondem?!
Queria mudar o mundo
Com a canção do John Lennon,
Com a versão da Simone,
Com as canções do Roberto...
Agora vejo que não chegamos nem perto!
Que nessa noite de festa
Haja afeto,
Não só farra;
Haja gente, haja jeito,
Muito amor em cada encontro.
Não somos restos de códigos de barra...
Que cada qual seja, não só tenha,
Que cada qual agradeça, não só peça.
Sejamos humanos, livre de planos,
Tramoias e garras...
E não papéis de presentes, verniz social reluzente,
Teatro de marionetes-ventriloquares
Há muitas casas decoradas
É preciso mais amor em muitos lares.

É preciso mais amizade nos corações e olhares.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

“A GRANDE BELEZA” OU A ÓTIMA ESTÉTICA HERMÉTICA DO CAOS OU QUANDO A BARBÁRIE DIZ SEU NOME OU OTTO LARA REZENDE OU A HORA DA ESTRELA OU A VIDA É BELA OU CENTRAL DO BRASIL

“A GRANDE BELEZA” OU A ÓTIMA ESTÉTICA HERMÉTICA DO CAOS OU
QUANDO A BARBÁRIE DIZ SEU NOME OU OTTO LARA REZENDE
OU A HORA DA ESTRELA OU A VIDA É BELA OU CENTRAL DO BRASIL
Erivelto Reis

Para Flávios e sinceros Cíceros e Sísifos

“Não se pode falar de pobreza. É preciso vivê-la.”
Irmã Maria

“Eu procurava pela grande beleza”
Jep Gambardella

                Quem disse que a vida tem de ser bela o tempo todo? Mas nos esforçamos para fingir com vigor que a aceitamos como passível de beleza. A autoria da obra de arte não se empresta a ninguém. O tesouro que ela vale, existe apenas a partir do contrato que se estabelece entre quem a constrói e aqueles aos quais se comunica o quanto ela evoca o que dói. É só.
                O filme “A grande beleza” (2013), produção Ítalo-francesa, dirigida por Paolo Sorrentino, que assina o roteiro em parceria com Umberto Contarello, e que conta com a atuação magistral do ator Toni Servillo, é um dos raros filmes em que se questiona, entre outros temas, o hermetismo da própria arte.
A cena em que a artista-mirim “produz” uma obra de arte (um quadro) diante de uma plateia de “intelectuais”, todos atrelados aos valores das práticas dos vernizes sociais relacionados e impostos, sedutoramente, pela elite econômica e política, enquanto se revolta com a condição da exposição e da expectativa dos que a assistem e se lambuza de tinta, e bate na imensa tela enquanto chora e grunhe. Neste momento há uma tomada do alto em que a criadora se confunde como criatura ou como objeto produto de si mesma ante uma obra adiada. E eis que se vê a obra. A sobra. A soberba da impossibilidade de domar, domesticar, mercantilizar o espírito da arte.
Nesse instante nos vemos, como expectadores, diante do olhar maravilhado da maioria dos personagens presentes a vernissage e angustiado de alguns dos personagens que percebem a barbárie da arte como produto imposto e cobrado de quem, se supõe, possa oferecê-lo, como se oferecem os vinhos de boas cepas e as camisas de puro linho. Arte não é grife, porque arte não é produto. Arte se faz produto, mas grifes não se reproduzem arte pelo simples fato de existirem.
Ou ainda, a cena em que um empresário afirma tocar o país enquanto os artistas apenas simulam trabalhar e produzir algo. O personagem Jep Gambardella, é um escritor que produziu um grande romance, e que posteriormente ingressa no ócio e num permanente bloqueio criativo. Suas novas reflexões advêm da observação das práticas pouco ortodoxas que, eventualmente, emergem e parecem conspurcar os contornos das hipócritas práticas sociais.
Suas relações são superficiais, mas, paradoxalmente, seus questionamentos são profundos. Ele chega a criar uma espécie de nova poética, a exemplo da Poética de Aristóteles, sugerindo práticas e convenções a serem aplicadas em um velório, como se os sentimentos e as experiências pudessem concorrer meramente para a teatralização ou dramatização das emoções.
A cena talvez mais impactante é aquela em que não há um só amigo no velório para carregar o caixão e as pessoas se entreolham enquanto os olhos da viúva buscam aflitos entre os presentes alguma condescendência para o martírio, a humilhação da constatação de uma vida que não produza amigos, arte ou saudades. Por fim, voluntariam-se algumas personagens presentes, muito mais incomodadas do que consternadas; e a câmera se fecha no olhar de dor e de sofrimento do personagem Jep. Catártico, num choro sofrido e contido, por sua condição de sexagenário, por sua incapacidade de aprofundar relações afetivas, proveniente de uma desilusão amorosa, de uma educação religiosa castradora e mitômana e de sua atual incapacidade de escrever o romance que pudesse reunir tudo o que viu e viveu.
A morte irmana e iguala, porém rejeita uma experiência que não seja fruto da emoção e da sensibilidade, uma vez que sem esses elementos vitais, a vida e os funerais são encenações mal feitas; representações de momentos em que o tempo para ou em que não avança. Diverte, entretém, mas cansa. Como os filmes e as obras sem o mágico da arte e do que ela evoca, enleva e preserva. O mistério que ela mantém e revela. O som inaudível e iniludível da vida que reverbera quando há amor.
O personagem parece questionar se a beleza decorre da vida, ou se a vida é o hiato entre o belo e o não-belo. Memória e imaginação criativa coexistem num exercício profícuo de metaficção em que os ícones da arte, da música, da poesia, da literatura, da fotografia são relidos e ressignificados, ora intertextualmente, ora intratextualmente. Alie-se a isso, a fotografia exuberante de uma Itália para além do turismo e dos lugares comuns e “Deixe esse romance começar. Afinal, é só um truque.”

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Poema: "Lapidar" - Erivelto Reis

Lapidar
Erivelto Reis

Não venham prantear saudades
Os que as improvisarem na hora...
Embotados,
Emotivos,
Consternados,
Pelo adiantado dos dias
Marcados,
(Des) – de que há – (finados)...
Quem conheceu
O que eu era,
Não vai alimentar quimeras!
Quem recordou do que fui,
Sabe que o tempo não me possui.
Só me consome!
Mesmo sem lembrar-se do meu nome.
Não me venham ofertar pela dor,
Tudo o que só me negaram

Enquanto não havia amor.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Poema: "Pertença" - Erivelto Reis

Pertença
Erivelto Reis
Não acho nada
A não ser se me perguntam
Mesmo se procuro
Tenho prática com nada
Que não me pertença
Não entendo o tempo
O amor ou a paciência.
A vida escreve desafios
A morte emite ofensas
Talvez um dia a vida vença

Talvez um dia

Artigo: "Para Ler crônicas" - Leandro Konder

Anexo I

KONDER, Leandro. “Para ler crônicas”. In: _______. As artes da palavra: elementos para uma poética marxista. São Paulo: Boitempo Editorial, 2009, p. 45-49.



PARA LER CRÔNICAS

Leandro Konder


            Na mitologia grega, Urano, o Céu, teve com Gaia, a Terra, uma porção de filhos. Um desses filhos era Cronos, o Tempo. E Cronos, incitado pela mãe, castrou Urano. Mais tarde, com medo de que se cumprisse o que um oráculo predissera (que ele seria destronado por um de seus filhos), Cronos os devorava à medida que nasciam. Salvo pela mãe, Réia, um filho, entretanto, escapou: Zeus. E, como era previsível, Zeus derrotou Cronos e se tornou o mais poderoso dos deuses porque venceu o Tempo, que devorava tudo. Mas Cronos, mesmo vencido e justiçado, continuou a ser poderoso.
            Onipresente, o Tempo se impõe a todas as criaturas, se sobrepõe a todos os destinos. Tentamos compreendê-lo, esforçamo-nos por medi-lo. Algo nele, contudo, sempre nos escapa. Ele é vasto demais, desborda do nosso entendimento. Santo Agostinho, nas suas Confissões, já nos interpelava: com que autoridade pretendemos medir o tempo, se ele é a medida de todas as coisas?
            Cronos ri de nós. Não podemos alcançá-lo. Jamais chegaremos aonde ele se encontra, porque ele está em toda parte. Nosso conceito de eternidade leva-o às gargalhadas.
Os reis, então, que eram na Antiguidade os homens mais poderosos do mundo, designaram escribas de confiança para registrar seus grandiosos feitos e domesticar o tempo.
            Os primeiros cronistas não foram autores de crônicas, tais como as lemos e escrevemos hoje; foram escribas que assumiam a tarefa de relatar as ações dos monarcas. E nesse relato os antigos cronistas se empenhavam em apontar o que o rei tinha feito de melhor, de mais duradouro; as obras que deveriam ficar registradas e que nem mesmo a passagem do tempo destruiria.
            Os cronistas faziam o registro de fatos, na ordem em que haviam acontecido. O trabalho deles apontava, dentro de seus limites, para o que viria a ser o trabalho de historiadores.
Alguns desses cronistas assumiram uma inegável importância na história da cultura portuguesa, como Damião de Goes e, sobretudo, Fernão Lopes, a quem coube a delicada tarefa de explicar por que o princípio da sucessão dinástica, decisivo para a monarquia, foi momentaneamente deixado de lado por ocasião da ascensão de dom João I (o Mestre de Avis) ao trono, em Portugal.
Só no século XIX é que os nomes “crônica” e “cronista” passam a designar uma atividade e um gênero literários bastante diferentes daquilo que essas palavras significavam nos séculos XV e XVI.
A crônica passou a ser um pequeno conto de enredo indefinido, ou o comentário que se faz a respeito de um episódio vivido ou imaginado. Ou, ainda, uma breve reflexão feita em tom de quem aparentemente não se leva muito a sério. No sentido literário atual do termo, a crônica ocupa regularmente um espaço modesto, porém significativo em jornais e revistas, e também é divulgada no rádio. Em princípio, nenhum assunto lhe é vedado, todos lhes são permitidos (inclusive a falta de assunto).
Ao contrário da reportagem, a crônica não tem maiores compromissos com a objetividade. Sua força não está na informação, mas na capacidade de interessar aos leitores, em geral. Sua força não está na profundidade do pensamento, mas na amenidade com que o expõe. Margarida de Souza Neves chama a nossa atenção para o espaço aberto pela crônica para o comentário pessoal, o olhar subjetivo, a busca da singularidade do efêmero e do fragmentário1.  Embora não ignore os problemas da esfera pública, a crônica parece preferir lidar com vicissitudes mais pessoais, com sentimentos que se formam na vida privada, ou se voltam para ela.
A literatura brasileira tem um bom time de cronistas. Machado de Assis, a glória máxima de nossas letras, cultivava o gênero; Carlos Drummond de Andrade também2
De maneira geral, a crônica moderna se desenvolveu a partir da expansão dos jornais diários, que abriam um espaço para textos leves, escritos em tom coloquial, para entretenimento do leitor. Seu florescimento decisivo no Brasil parece ter se dado nos anos 1930.
Antes disso, no século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX, ainda havia nas crônicas elementos de uma retórica imponente, que o gênero – tolerante – acolhia, mas não contribuíam para sua identidade. Olavo Bilac, José de Alencar e mesmo Machado de Assis: independentemente dos méritos desses autores, suas crônicas apresentavam, em alguns momentos, a linguagem “literária” que na época era considerada nobre. Avanços na direção de um maior despojamento linguístico e temático têm sido notados em João do Rio, Luís Edmundo, Lima Barreto, Mário de Andrade, Alcântara Machado e Álvaro Moreyra, entre outros.  Nos anos 1930, dedicando-se ao gênero com exclusividade, destaca-se o cronista Rubem Braga. É então que se constata o pleno florescimento daquela que já foi chamada de “a moderna crônica brasileira”. Na esteira do canal aberto por Rubem Braga, emerge toda uma geração de cronistas. Correndo o risco de incorrer em omissões muito graves, lembro aqui Manuel Bandeira,
 


1 Margarida de Souza Neves, “História da crônica. Crônica da história”, em Beatriz Rezende (org.), Cronistas do Rio (Rio de Janeiro, José Olympio, 1995), p. 29.
2 Ver Jorge de Sá, A crônica (São Paulo, Ática, 1985).
Vinicius de Moraes, Marques Rebelo, Antonio Maria, o Nelson Rodrigues de “A vida como ela é”, Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, José Carlos de Oliveira. E, mais recentemente, João Ubaldo Ribeiro, Zuenir Ventura, Artur Xexeo, Arnaldo Jabor, Maria Lucia Dahl, Luis Fernando Veríssimo e tantos outros3.
Cada cronista imprime seu estilo próprio, sua maneira particular de ver fatos curiosos, de se divertir e divertir os leitores. Ou então, sua melancolia, seu modo de evocar situações passadas, esperanças que se dissiparam (penso aqui em meu irmão, Rodolfo Konder).
Às vezes, irritado, o cronista – exercendo um direito seu – abandona o tom da crônica por uma certa truculência, cedendo à pressão polêmica ou sentindo necessidade de marcar uma posição de princípio. Álvaro Moreyra, entretanto, conseguiu marcar uma posição de princípio, sem se afastar do clima da crônica quando escreveu: “Não nasci para chefe. Chefe manda, eu peço. Peço que não me mandem”. 4
Antonio Maria, com seu humor carioca inconfundível, fazia pilhéria com Vinicius de Moraes, dizendo que todas as crianças são traumatizadas pela brutal cessação do acesso ao leite materno (o desmame). E ressalvava: “Isso aconteceu a todas as crianças, exceto a Vinicius de Moraes, que foi sempre amamentado e amado pelas jovens mães dos outros”.5
Uma certa molecagem afetuosa não é rara nas crônicas. Também não é rara a irritação divertida, a melancolia graciosa, a auto-ironia. Se houvesse algum consenso entre os cronistas a respeito do que a crônica deve ser, imagino que chegariam mais facilmente a um acordo sobre o que não deveria ser: acima de tudo, é preciso evitar que ela seja chata. Muitos críticos sublinham o fato de a crônica constituir um gênero menor. Antonio Candido reconhece a procedência dessa qualificação, mas argumenta que:
 


3 Ver Beatriz Rezende (org.), Cronistas do Rio, cit.
4 Álvaro Moreyra, As amargas, não (Rio de Janeiro, Lux, 1955), p. 208.
pertencendo a um gênero menor, a crônica fica perto de nós [...]. Na sua despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade de significado e um certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata à perfeição. 6
E admite:
sua durabilidade pode ser maior do que ela própria pensava.7
E aqui nos defrontamos, mais uma vez, com o deus grego e sua ambivalência. Cronos deu origem a uma percepção do tempo que nos põe diante da essência contraditória da mudança e da permanência.
Se dizemos que alguém sofre de uma doença crônica, isso significa que a doença é constante, vai durar enquanto o doente durar. Se dizemos, entretanto, que alguém escreveu uma crônica, isso significa que o autor do texto se empenhou em cultivar um gênero menor, redigiu algo leve, que não tem a ambição de perdurar.
O paradoxo consiste nisso: a doença crônica pode um dia vir a ser curada. E a crônica comprometida com um instante fugaz pode perdurar na lembrança dos leitores. O efêmero pode ser eterno, assim como o eterno pode ser efêmero.
 


5 Antonio Maria, “Evangelho segundo Antonio”, em Com vocês, Antonio Maria (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1994), p.12.
6 Em Setor de Filologia da Casa de Rui Barbosa (org.), A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil (Campinas/Rio de Janeiro, Unicamp/Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992), p. 15.
7 Idem.







Poema: "Musa" - Erivelto Reis

Musa
Erivelto Reis 
Para Gloria Regina
Como se hoje fosse o último dia
Não de um ciclo,
O fim de todos…
Como se a vida só valesse a pena
Por respirar o ar, ruflar das ondas
Da poesia.
Assim te amo!
Porque hoje é o nosso instante,
Porque a nossa história
É um despertar constante.
Porque a lua muda
A cada quadrante,
Assim te amo
E me permito sentir.
Porque a sorte
Um dia quis sorrir pra mim:
Desde que a vida fez você existir.

Poema: "Pequeno tratado das incompreensões do nada" - Erivelto Reis

Pequeno tratado das incompreensões do nada
Erivelto Reis
A Manoel de Barros e seus (ím)pares

Incrível como um dia,
De repente fica despássaro!
O desuso da palavra
Supera até seu ma-(u)-so...
Descentrado choro:
O fim de todos os desapontamentos!
O poeta que passa,
Sem tirar o ás que carrega na manga,
Desbotado – desabado – descabido.
Ausência é etiqueta
De sonho desfeito.
Manoel; Konder; Primitivo;
Junqueira; Ubaldo e Suassuna...
E todos os morfemas que subverteram,
Inventaram?!
E todos os léxicos que desafiaram?!
E todos os sentidos que semearam.
Lavraram palavras...
É lícito pensar que nos dias que seguem
A ameaça da perda é trapaça
É pedra dura na vidraça.
Comovidos
Homens

Incumbidos de colorir (des) graças.

sábado, 4 de outubro de 2014

"Maná" - Poema de Erivelto Reis

Maná
Erivelto Reis

Alimento é beijo,
Toque na mão
Abraço de manhã...
É prato feito com amor.
Alimento é ternura
Que não acaba,
É saudade que aproxima.
Alimento é cotidiano
Que não é rotina.
Alimento é companheirismo,
É confiança, é paz,
Prazer, êxtase e calma.
Alimento é tudo
Que exulta a alma!
É tudo que arrepia o corpo.
Alimento é frase
Que se completa
Só de se olhar
Pra pessoa certa.
Meu alimento é você:
Proteína do meu ser,
Meu maná,
– Força motriz do meu mundo –,
Meu tudo, meu ar,

Meu néctar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

"Xeque-mate" - Poema de Erivelto Reis

XEQUE-MATE
Erivelto Reis

Quem manda aqui
É o bispo
Da torre
É um cavalo
Só quem não manda aqui é o pião

Quem manda aqui é
O conde
E o coiote
Quem se esconde é que manda
Enquanto soca o pilão


Quem manda aqui é o bicho,
É o bope, é o ibope
É o dono, o todo poderoso
É o mistério do troço
A malícia do traço e do troco
É fiscal, é o chefe
Só quem não manda é o povão.

É quem manda que mais se manda daqui
É quem mais manda que mais debocha daqui
É quem mais manda quem menos se acha aqui

Quem manda aqui não governa,
Quem manda aqui não enxerga, não escuta
Quem manda aqui é um bom

Quem manda aqui não põe a mão em cumbuca
Não põe a cara na urna
Já arrumou a arapuca
Te colocou em sinuca
Jogou sal na tua nuca

Quem manda aqui jamais deixou de mandar
Nunca.



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

"Vou" - Poema de Erivelto Reis

Vou
Erivelto Reis
O pássaro abatido em pleno voo
Sente saudade da nuvem
Que é feita de chuva e traços de animais.
O pássaro cai...
O que dói não é a queda,
São os segundos que antecedem a tragédia.
Cercados de incrédula curiosidade,
Os outros apenas observam o tombo:
Jaz secreto alívio
Por não ser o alvo.
O amor desencontrado
Também declina,
A vida ensina:
Ninguém consegue estar a salvo.
Pouco depois,
Talvez haja chance de um novo voo.
Poucos reflexos,
Medo e um ruflar desajeitado
De dar pena.
O Amor há que sustente as asas,
Sinas de quem quer voar...
Amor é bicho, feito nuvem, de só existir no ar.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Crônica: "Dona Maria do Cafezinho" - Erivelto Reis

DONA MARIA DO CAFEZINHO
Erivelto Reis

                O caso é que dona Maria, que trabalhava servindo cafezinho num bar na esquina da Rua Campo Grande com a Lucília foi eleita presidenta da República.
                Começou assim: panfletou e fez boca de urna pra um candidato a vereador que, depois de eleito, não querendo tirar do seu bolso pra pagar a sua melhor correligionária, resolveu levá-la para servir café na Câmara dos incomuns, situada no Centro do... da Cidade.
Chegando lá, dona Maria fez amizades: não faltava, trabalhava e, de vez em quando, servia como guia nas visitas de estudantes, antropólogos e cientistas antropófagos. Ninguém melhor: conhecia as salas, os gabinetes, as passagens e os macetes: não os usava, mas sabia quem.
Deu-se que um oponente do candidato que levara dona Maria ao espaço, como símbolo de seu poder, apossou-se do passe da funcionária exemplar. Nada novo: na casa que deveria ser do povo, qualquer um que trabalhe (de fato), e não se esconda atrás de um mandato, é um funcionário exemplar. Dizem que não existem exceções, mas há.
                Recolocada na profissão, com aumento salarial, e apoiando um candidato que asfaltou metade da sua rua, dona Maria achava estranho que o asfalto só estivesse de um lado da calçada e não de outro. Engenheiros... Mais estranho era o esgoto não estar instalado, a escola não funcionar, a UPA não... O que se faz numa UPA, neguinho? Começando a andar, começando a andar. Sei lá.
                Candidato apoiado por dona Maria nunca perdeu uma eleição comprada. Dona Maria não sabia de nada, mas concordava que parte do seu novo salário fosse dividida com um candidato que dedicou parte de sua vida à desdemocracia. Vereador, deputado, governador, senador, ministro... e dona Maria lá, envolvida nisto. Já andava diferente: olhava nos olhos, comandava o gabinete, sempre sorridente. Continuava servindo cafezinho por fetiche. Só pro chefe, só pra elite.
Até que seu pé de coelho entrou na chapa, concorrendo à vice. Dona Maria quis ser diferente: entrou de suplente. Estava filiada. Era a suplente perfeita, pois ela, de fato, não sabia de nada. Não era uma pobre coitada. Tinha uma ética ilibada, uma moral inatacável, características perfeitas para o estrago, o escândalo que dali a pouco aconteceria, como tem sido historicamente comprovável.  
                CPI, crise, televisão denuncia. Cai o presidente, o vice renuncia. Olha aí, dona Maria, com a faixa de presidenta e miss simpatia...
                – Dona Maria? Dona Maria? Pode me servir um café?
                – Hum? Desculpe, doutor, si-me distraí.
                – Estava sonhando acordada, dona Maria?
                – Não, senhor doutor. É que eu tava emocionada com a musiquinha da sua campanha.
                – É isso, dona Maria. Se eu ganhar, eu prometo que vou pagar a outra metade da sua laje. Mas só se for de isopor, hein?!
                – À noite, no barraco metade laje, metade telha, dona Maria ainda sonhou com o discurso da posse. Acordou assustada, num acesso de tosse. Aí é dose!

                 

"Contas" - Poema de Erivelto Reis

Contas
Erivelto Reis

Que é noite
Na vida
Na rua sem saída
Que o tempo passou
E passa enquanto
Você
Pensa
Que é tarde pra pedir desculpas
Que é cedo pra pedir
Perdão
Que não dá pra rir disso agora
Que não vai dar pra recuperar o que foi
Esqueça
A vida é a soma de nós dois
Menos o mundo que havia antes
Dividida pela saudade que virá depois
Esqueça
Que andamos em círculos
Igual aos rebanhos e reses...

Mas só(s) às vezes!

sábado, 23 de agosto de 2014

Poema: "Estado Crítico" - Erivelto Reis

Estado crítico
Erivelto Reis

Sua escrita é estranha
Excreta,
Escrota,
Esquisita...
Que eu escreva
Encrava,
Estraga,
Entrava,
Sua estrada de signos enguiça.
Não aceito sua premissa!
Sua poética é pobre,
Patética,
Anestésica,
            Diurética.
Seu cobre é de lata!
Sua escrita agride,
Maltrata.
Sua escrita se expande?!
Dilui-se, feito fumaça...
O mal que ela faz,
Demora,
Mas passa.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

"Toada" - Poema de Erivelto Reis

Toada
Erivelto Reis
Ai, dia difícil, vai:
No registro no cartório,
Na linha da identidade,
Na parede da sala,
Na falta de felicidade!
No porta-retrato na mesinha,
No monóculo do passado,
No álbum da (ex-)família,
No sem-descanso da tela,
Nesse silêncio da trilha!
Nessa lembrança singela.
No três por quatro da carteira,
Na memória, na moleira,
No juízo, no exemplo, na soleira:
Ai, dia difícil, vai!
Vai achar em todo canto,
A saudade do meu pai.
Não arrepare esse aparte,
Esse drama, esse assunto,
Esta toada, este luto…
Meu coração ainda bate:

Não sabe que morreu junto.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Poema "Pátria" - Erivelto Reis

Pátria
Erivelto Reis

Não sou nem fui
Nem sombra do pai que tenho,
Que tive…
Que deteve o meu amor, que eu jamais detive.
Queria dizer isso se pudesse,
Se o tempo voltasse…
Não sou nem em sonho,
Mas o vejo em sonho
(Nas fantasias de abraço e reencontro).
Não chego nem aos pés,
Mas o vento, se não varreu o convés,
Distanciou os portos,
Com ondas de remorsos      
De quem viu o trago da cana
No altar do banquinho,
Esperando – símbolo da conversa adiada –
Que era pra dizer tudo,
Mas que não pôde dizer nada.
Há certo tipo de dor que é
Feita pra se carregar sozinho.
Não sou nem de perto, nem de longe
Melhor do que o meu pai, meu sogro,
Meu paipoeta e gente que sabe sempre
O que fazer na hora certa.
Sou apenas um pai orgulhoso,
Sou apenas um pai zeloso…
O que escrevo na orla da noite do dia
Declaro não querer ser poesia,
Declaro ser homenagem, saudade:
– A saudade é sempre urgente! –
(É isso que tenho sentido),
E pesa mais
Que carregar centenas de sacas de arroz!
Pra só depois abraçar o primogênito
Recém-nascido.
Não sou…
Mas sei reconhecer quem é, quem foi.



quarta-feira, 30 de julho de 2014

"Mapas" - Poema de Erivelto Reis

Mapas
Erivelto Reis
Em que terras porei meus pés,
Quando tudo o que sei flutua?
A luz da lua, fase a fase,…
A existência protegida
Num tempo que ninguém
Quer que passe.
Em que oceano
Afogarei meus olhos?
Retina que vê ausência,
Embaçada de incoerência,
Rumor que mais maltrata
Do que salva.
Olhar de cachoeira,
Cascata e catarata:
Um fio d’água e de voz,
Córrego que escorre nós…
Barco naufragado na foz!
Apenas rio…
Apenas mar,
Lagoa…
Em que porto
Terminam meus dias,
Quando tudo o que digo
(E o que não digo)

Magoa?

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Off & Sina - Poema de Erivelto Reis

Off & Sina

Erivelto Reis 

É assim que uns e outros
Tratam a Educação:
Dilapidam diamantes
Pra produzir carvão.
Mas comigo, não!
Comigo, não...

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Presença - Poema de Erivelto Reis

Presença
Erivelto Reis

 Tristeza é parágrafo da prosa 
é primeiro verso da poesia, 
quando a vida e a literatura 
perdem quem não deveria.


Vou guardar a lembrança
Viva do tempo
Em que você esteve comigo.
Mas vou guardar com tanto afinco
E, ao mesmo tempo,
Com tanto desapego,
Com o sentimento acessível
A quem quer que saiba ou pressinta
Que a história que vivemos
Talvez não me pertença.
Vou guardar com tanto zelo
E, ao mesmo tempo,
Com tanta displicência,
Como quem expande a consciência
De que só é real a essência…
Vou guardar dividindo,
E multiplicando a sensação
De otimismo e a lembrança do seu talento,
Amor em forma de oferenda,
Graça pra quem
Testemunhou ao menos

Um fragmento de sua existência.

terça-feira, 22 de julho de 2014

"Dois pontos" - Poema de Erivelto Reis

Dois pontos:
Erivelto Reis

Contando
Pode parecer difícil
De acreditar:
O amor é ímpar
A solidão é sempre par...

OlhA lá - Poema de Erivelto Reis

OlhA lá…
Erivelto Reis

Garoto na calçada:
“Moço não passa,
A vida é uma ponte quebrada”.
Ouvi a revoada...
E tiros de metralha
Dispensaram o pouso
Das aves e dos sonhos.
Apenas poça, apenas sangue,
Mangue de existência abreviada…
Garoto na calçada:
– Moço, no morro, na laje,
Na beira da estrada,
Na mesquita,
Na escola bombardeada:
Não passa nada.                   

A vida é uma ponte quebrada…

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Poema: "Ri... mas" - Erivelto Reis

Ri…mas,
Erivelto Reis
Nem sei que é feito de mim
Com esse silêncio inquebrantável!
É ausente, 
É mínimo.
É uma infância de signos,
É uma herança de ritos,
São sons e palavras
Que, às vezes, repito:
Nem sei que foi feito de mim…
Mas nem eu acredito.

sábado, 5 de julho de 2014

Bento Santiago - Poema de Erivelto Reis

BENTO SANTIAGO
Erivelto Reis
Insisto na escolha de destinos,
Por um entendimento consagrado,
Critério que aplico aos amores, amigos,
Epitáfio, suspensórios e camisas…
Invento cores pra mudar os dias:
De azul e colorido amistoso
Para um pálido, enevoado
E cinza tenebroso.
Atravesso com o barqueiro
Sem moedas que permitam
Que a viagem eu conclua…
O rio é raso, mas eu sei que ele espreita
– A alma até flutua, mas afunda –
E trama a minha queda.
Por um dever de ofício
Cultuado e por indício,
Vou transformando a dádiva de viver
Em autêntico sacrifício.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

"Semana de Prova" - Poema de Erivelto Reis

SEMANA DE PROVA
Erivelto Reis
Foge da mente o que eu achava que conhecia,
Aparece a memória da dúvida que há muito eu não via,
Ou a certeza de que eu duvido do que lembrava que sabia.
O colega não empresta o fichário,
O relógio não desperta no horário,
O motorista não para no ponto,
Já chego atrasado, esgotado e tonto.
A prova já foi distribuída,
Me dá uma dor de barriga,
Bambeiam as pernas, eriçam os pelos…
Até barulho de papel de bala me irrita.
Só cai na prova o que foi dado no(s) dia(s) que eu faltei,
Aquilo que foi explicado na hora que eu cochilei,
Ou a única coisa que no caderno eu não anotei,
O capítulo da apostila que eu nem sequer consultei.
Não posso olhar pro lado
E pedir que alguém me ajude…
Não posso nem consultar
Meus amigos no Facebook.
O lápis quebra, a caneta falha,
O papel rasga, a letra enrola.
Semana de prova é a semana
Em que acontece tanta coisa esquisita:
Até esse terrível pesadelo
De quem tanto se dedica:
Da ponta do pé até a raiz do cabelo
Aos estudos, à pesquisa.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cecília, filha de Dom Quixote - Poema de Erivelto Reis

Cecília, filha de Dom Quixote
Erivelto Reis

Para Cícero César

Cecília, creia-me,
Vosso pai é um herói romântico.
Sua luta, eu li em outro grande mestre,
Tem sido sempre com as palavras
E ele as tem vencido, dominado.
O que significa: se doado, se doído,
Melhorado...
Cecília, Quixote é teu pai,
Mas os outros o conhecem
Por sua face social,
Que pode atender como Cícero...
Francisco, teu irmão,
Laila, sua mãe...
Mas você já sente isso.
O mundo é sua casa,
A arte é seu berço,
O amor é seu lar.
Venha brincar, Cecília,
Pois as pás dos moinhos,
E as poesias dos caminhos
Movimentam-se em círculos concêntricos,
Soprando a brisa inspirada
Pelos versos de teu pai

Pelo sabor dos ventos.

Epifania - Poema de Erivelto Reis

Epifania
Para Flávio Pimentel

Andará por sobre os temas o filósofo
Mergulhará no anil das águas do saber
Levitará sobre os entraves do futuro
Questionará a caridade do obscuro
Tateará na elipse das verdades
Arranhará a superfície dos mistérios
Declinará ante as rachaduras dos discursos
Semeará flores, teses, pensamentos
Silenciará ante a ausência de argumentos.
Existirá acaso mesmo quem reflita
E se comova com a amizade e a esperança?
Transferirá aos descendentes
Tal encanto...
Que haveremos, seus amigos, seus alunos,
Sua plateia...
De perceber em seus gestos e atitudes
A epifania da infância das ideias.

Ícaros - Poema de Erivelto Reis

Ícaros
Erivelto Reis

Somos todos feitos dos mesmos átomos,
Do mesmo carbono,
Da mesma areia.
E em cada um de nós há diamantes de quilates
Infinitos de gentilezas inimagináveis,
De carinhos incalculáveis.
Somos feitos da mesma matéria que 
Compõe os anjos, as auréolas e os poemas
Nossos dilemas se estruturam com
O teatro do lúdico e do drama
Que encenamos ou que somatizamos...
Com fígados, artérias e olheiras.
Não nos diferimos por nossa existência,
Conveniências ou conivências
Nos assemelhamos por medos
Desenredos e incertezas!
Por alma, coração e porque
Sobre as nossas mesas
Pousamos as redomas que protegem (nos)
Dos sonhos que já realizamos.
O aluno é um mestre em gestação,
O mestre é o aluno do futuro
De cada geração...
Por isso o exemplo e a esperança permanecem,
Por isso a imagem que temos de nós mesmos
Não corresponde, ainda, a todo o bem que ainda faremos.
Estamos no caminho:
As asas já estão atadas!
É a chave dos céus de sobre
O labirinto o que queremos...

Ri... mas, - Poema de Erivelto Reis

Ri…mas,
Erivelto Reis
Nem sei que é feito de mim
Com esse silêncio inquebrantável!
É ausente, 
É mínimo.
É uma infância de signos,
É uma herança de ritos,
São sons e palavras
Que, às vezes, repito:
Nem sei que foi feito de mim…
Mas nem eu acredito.

segunda-feira, 31 de março de 2014

"01 de Abril" - Poema de Erivelto Reis



01 de abril
Erivelto Reis
Olhei pra rua,
Tremi,
Quem disse mal de mim?
Quem vai criar meus filhos
Quando vierem me levar daqui?
Que trem, que carro e casa
OBAN, obus, baú...
Silêncio nunca foi história,
Cinza não é mérito,
Corpo desaparecido
Não sustentará medalha...
Não se cobrirá com mortalha.
Espreitaram tanto,
Que desconfiam até da sombra...
No Sermão do Viaduto
No alcatrão das masmorras
É meu irmão fardado
Mas nu que o rés das forças.
Primeiro de abril
Eis que acordo:
E busco a Democracia
No revés de todas
As mentiras.