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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Poema: "Poetrocantropus", de Erivelto Reis

Poetrocantropus
Erivelto Reis
Faço encartes
penduro as letras
as palavras estão aí
tirem-me do centro
desfocalizem-me
A escrita fica e é eterna.
Já eu!
Selma dias

Disso eu nunca duvidei:
As pessoas têm poesia dentro delas.
Disso eu sempre soube:
Há pessoas que as poesias
É que são elas.
Há poesias em pessoas,
Há pessoas que são a poesia em Pessoa...
Há pessoas que são várias pessoas.
Há pessoas que rascunham a poesia que serão,
Talvez no próximo outono,
Talvez na próxima estação.
Há pessoas que são a poesia em abandono,
O livro fechado das emoções que têm,
Dicionários de desastres e interrupções...
Há pessoas que são a poesia insone,
São chamas de vela,
Ou a cera que derrete,
A rima rara, o verso bom que não se repete.

Disso eu nunca duvidei.

sábado, 25 de março de 2017

Poema: "Papel", de Erivelto Reis

Papel
Erivelto Reis

Você não respeita o suor do meu rosto
Meu espaço de trabalho, seu espaço de estudo...
Não respeita o meu presente,
Me respeitará no futuro?
Meu conhecimento,
Que com você eu divido,
O que gostaria de construir com você,
São trapos, farrapos, migalhas,
Pra debaixo do tapete varrer?!
Me despreza e desdenha e critica
Mas quer ser tratado com distinção e decência
Se eu te tratasse como sou tratado...
No primeiro ato, você perderia a paciência...
Ah, se você me tratasse como se valorizasse a docência.
Acorda, pessoa de ética eólica,
Muda sua situação:
Estuda, respeita, trabalha,
Meu fardo é minha cangalha,
Meu pedido é minha indignação.
Aqui, em Paris ou em Roma,
Quem toma as atitudes que você toma,
Com certeza, o seu diploma,
Por favor, vê se me ouve:
Não serve nem pra papel de pão,...
Não serve nem pra papel de açougue!


domingo, 19 de março de 2017

Poema: "Buraco", de Erivelto Reis

Buraco
Erivelto Reis

Os reis de ouros
não desembainham espadas

num jogo de cartas marcadas.

sábado, 11 de março de 2017

Poema: "Mano a Mano", de Erivelto Reis

Mano a Mano
Erivelto Reis

Não sou mais aquele que eu era:
Passou o tempo,
Perdi momentos,
Mudaram-me os sentimentos...
Não sou mais.
Depois do primeiro poema,
Depois da primeira lágrima,
Passei a ter uma lavra:
Lavoura de palavra de poeta
Que semeia
Castelos de ar e areia.
Não sou mais,
Depois que me deixei levar,
Saiu de mim um poema
Com a tristeza de quem
Está longe de tudo,
De seu amor, de seus filhos,
Ou de seus pais
E sabe, lá no fundo,
Que nada vai voltar mais.
Sou um rio que não flui.

Não sou mais aquele que fui. 

quinta-feira, 2 de março de 2017

Poema: "Tarântula", de Erivelto Reis

Tarântula (Pode ler pra mim?)
Erivelto Reis

A tara da tarântula
Não é o tantra
Não é a teia
Não é a trama
A tara da tarântula
Não é o mantra
Qual é a tara da tarântula?
Qual é o seu chiste?
É esperar pela presa
Sem pressa,
Deixá-la presa à beça,
É isso que a tarântula preza
Salivar
Degustar, desgostar
Pra saborear
A tarântula não desiste
A tara da tarântula

É a glândula de seu fetiche.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Poema: "Vendeta", de Erivelto Reis

VENDETA...
Erivelto Reis
Para Cícero César e Flávio Pimentel

Se Rosa estivesse aqui,
Eu perguntaria que raio de travessia é essa?!
Daria à Ana Cristina o que é de César!
Na certa, haveria uma esquina, um beco, uma sombra...
Alguém manipulando, com sutileza,
A heresia da gentileza do carrasco no cadafalso da porta da igreja.
Um rio de correnteza, que mostra como superfície
O que, bem lá no fundo, nunca foi razoável.
Se Rosa estivesse aqui...
Mas é pouco provável.
Nenhum Wilde, Dante,
Nenhum Cervantes, nenhum Huxley,
Nenhum Kafka, nenhum Camões,
Nem Adélia, nem Florbela,
Podem conter o fervor de preces e orações
De qualquer Pessoa,
E os seus heterônimos de amor e fúria.
Pergunte a quem pertence à cúria.
Eles sabem que o poder
É a melhor parte da loucura.
Se Rosa estivesse aqui...
Que Bandeira hastearia?
De Paz, de Camus,
Ora, Eça, nem me peça explicações: diria Régio
Que tudo isso se resume
A porra de um romance de António Lobo Antunes.
De Barros a Borges,
Leitores seriam fantoches
Que se assustariam com os deboches da vida:
Os atentados, os refugiados...
As Torturas dramáticas do cotidiano.
A morte de gente de bem fazendo estrago,
Permitida por gente mal...
Denunciada com a vidência da clareza de Assis e de Saramago.
Nenhum poema de Gabriela Mistral,
Nem a doçura de Neruda faria cessar essa dor aguda.
Dando na ponta o soco que trespassa a lança...
Vai ver o mundo é o sertão
E todo mundo é Riobaldo,
E Diadorin já morreu mesmo...
E, sei lá, se nunca houve céu!
E o pacto foi completado...
E agora o mundo é o diabo,
Com a faca tinindo,
Riscando destino
E cobrando a conta.
Tem mais silêncio no mundo,

Mas a vontade é tanta.