Quem sou eu

Minha foto
Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Poema: "Arrulho", de Erivelto Reis

Arrulho
Erivelto Reis

Meu poema caminha.
É uma palavra à toa...
É um escombro, um monturo,
Um entulho...
É um arrulho.
Desespectro de pessoa...
Meu poema é um pombo que atravessa a rua,
Sabendo que pode voar, mas não voa.
É uma toada boba,
É um atol de lama de Mariana!
Meu poema pensa que me engana...
Lá vai meu poema atravessando a rua:
Lá vai meu pombo ser atropelado,
Meu tombo:
Vidro da linguagem estilhaçada,
Tímpano perfurado da palavra,
Explosão de vísceras
E asa.



sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Poema: "Folheia", de Erivelto Reis

Folheia...
Erivelto Reis

Os livros que nos marcam aprisionam em suas páginas
O que somos, o que éramos, o que pensamos ser quando os lemos.
Depois, ao relê-los,
Vamos nos reencontrando, nos reescrevendo.
Os livros que nos marcam nos aprisionam em liberdade
Perpétua de culpa,
Pois olham dentro de nós. Olham dentro de nós...
Até que passam a existir em nós, absolvem-nos do dolo,
Absorvem-nos de nós.
(Do exílio do dogma), resgatam-nos da ilha,
Naufragando e afundando pra sempre em nós.
O labirinto das ruas de frases e parágrafos
Constituem o alicerce da cidade-fortaleza
E da dignidade do casebre,
Do sentimento mais vil ao mais frágil que possuímos.
Os livros que nos marcam convidam-nos a reencontrá-los
E, ao reencontrá-los, os reconhecemos,
E eles nos desconhecem:
Somos quebra-cabeças sobrando peças,
Faltando peças, com um parafuso a menos,
Com uma engrenagem a mais...
Mais velhos pra reagir, mais frágeis pra empreender.
Os livros se riem do reencontro:
Sua alegria é sincera e irônica,
Sua amizade é leal e canina como um dente de leite.
“Quem são esses todos que te acompanham?”
Perguntariam os livros?
Mais cheios de saudade, menos cheios de nós,
Esvaziados de tempo,
Lotados de saudades e de memórias novas,
(Das memórias antigas que tivéramos outrora),
Respondemos:
“Ninguém!”, referindo-nos aos outros que não vemos.
Mas pressentindo personagens ficcionais, espirituais que nos rodeiam...
Não é possível saber o dia de nosso fim,
Talvez os livros marcantes o saibam,
Por isso se nos iluminem
A enxergar no fundo do túnel de nossas almas.
Quisera fugir pro enredo do meu livro mais especial,
Quisera apenas fugir.
Fecha o livro de tua existência,
Que outra história ainda está por vir.





quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Poema: "CENTRO DE MEMÓRIA, PAZ E RECONCILIAÇÃO", de Erivelto Reis

CENTRO DE MEMÓRIA, PAZ E RECONCILIAÇÃO
(Cemitério colombiano)

Erivelto Reis

Diferente do que de fato é,
Meu pai foi sepultado em Bogotá,
Numa tarde fria, muito fria e triste.
Aliás, foi lá que ele faleceu, pra mim.
Lá eu soube de seu mal súbito,
E de lá nunca pude escapar
Pra ouvir suas últimas palavras,
Pra olhar no fundo de seus olhos miúdos,
Verdes de menino triste,
Socorrê-lo,
E dizer o quanto o amava.
Da estação do Transmilênio,
Li rapidamente uma grande placa:
Centro de Memória, Paz e Reconciliação...
No alto de Montserrat
Ou na praça tão inumanamente silenciosa e vazia
Que testemunhou a confissão
Mais dolorosa da desgraça mais profunda
Que de um filho pudesse partir:
A dor pela constatação de desexistir...
Sou um cemitério colombiano,
A memória eu já tenho...
Não há horizonte pra onde eu possa ir.