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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Poema: "Apagar", de Erivelto Reis


APAGAR
(Estado de sítio)
Erivelto Reis

Apagar uma pessoa
É afastá-la dos que a amam
E daqueles que ela abraça.
Apagar é reduzir à lembrança
Aquele ou aquela que estava
Na militância contra o autoritarismo, o obscurantismo e a decadência,
Atuando, trabalhando
Em favor da errância, da independência.
Apagar é restringir, humilhar, ameaçar veladamente,
Alegando prestigiar...
Descredenciar, tentar reduzir a evidência
De sua importância, de seu talento, de sua influência.
Não por acaso, os que apagam, em geral,
Não constroem.
São os arquitetos do fracasso.
Atuam na sombra dos discursos,
Não no brilho das ações.
Estão protegidos pelas tramas aéticas
Que teceram. Pelo desejo de poder
Dos asseclas que escolheram.
Não querem discutir democraticamente,
Querem mandar, insensatos, autoritariamente.
Por isso apagam,
Para que quando surja a cartada final,
Emergindo, lacônica e fatal, contra
A enfraquecida e acuada vítima,
Os que a testemunhem não saibam
O contexto que sustenta o golpe e o legitima.
Falam em nome do progresso, fazem uso da representatividade
Que não percebem que não têm.
E que a premissa que os orienta não é a verdade,
É a conveniência.
Apagar é um projeto de desvalorização,
De desumanização.
Antes, se apagavam quadros,
Agora, pretende-se apagar pessoas.
Manchando de silêncio e medo
O espaço antes utilizado para construir e trabalhar.
Cinicamente, expulsam-te pouco a pouco,
Sufocam, tornando escasso e irrespirável o teu ar...
Obrigam-te a sair, a fugir para sobreviver,
Alegando que tu é que não queres ficar.

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