Árias
Erivelto Reis
Um dia vamos nos lembrar de tudo o que você nos fez.
Suas maldades, nossos sofrimentos,
Paciência... Serão enredos
Revendidos como histórias numa novela das seis.
Atores e atrizes, mais ou menos infelizes,
Representarão as sombras de nossa antiga existência.
Um dia, sua covardia, sua prepotência
Vão estar denunciadas num almanaque, num livro
Ou num possível
single censurado,
De um novo improvável Chico Buarque.
Haverá uma nova Tropicália para afrontar essa horda de
canalhas,
Falsos heróis de uma era de araque.
Aí então, sairemos do lodo,
Do medo de parte de um mundo todo.
Protestaremos em atos cívicos
Com performances dignas de Bethânia e Tom Zé,
Com poemas de Vinícius e a irreverência de Jards Macalé.
E, ao som de “Não chores mais” do Gilberto Gil,
Lutaremos pela soberania do Brasil.
Tão intensa, pacífica, contundente e irreversivelmente,
Que os bárbaros barões da corrupção,
Apenas por um segundo compreenderão
Que é do povo que emana o verdadeiro poder.
Lamentarão, ainda, haver deixado
Um fiapo de luz, uma mísera brasa
De Arte, Literatura, História e Educação,
Sobreviventes ocasionais do seu plano de domínio
malfadado.
E das sendas, fendas do mais profundo degredo
Brotarão flores, nascerão Cindas,
(Que marcarão vitórias no calendário dos dias só de
amores feitos)
Professoras, professores, trabalhadoras e trabalhadores
Operários e operárias de todas as árias
Dessa ópera composta por um povo nobre e sem medo.
Gente com energias tão fortes, tão lindas,
Com o peito cheio de brio, o coração cheio de sonhos,
E a cabeça cheia de conhecimento, ética e do que de bom
houver,
Para acabar de vez com esse show de horrores.
Os novos arcanjos deste novo país livre
Terão nas mãos a força, nos lábios palavras, poemas e
canções
E as verdades que a inspiração trouxe.
Esse dia está longe, está perto, podia ser agora,
Esse dia bem poderia ser hoje.
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